Francisco Graciano, 55, não teve uma infância fácil em Juazeiro do Norte. Caçula de sete filhos, ele perdeu a mãe aos dois anos de idade. Os irmãos partiram após o segundo casamento do pai, o artesão de arte popular, Manoel Graciano. Francisco saiu de casa aos sete anos para morar com a irmã em uma fazenda onde trabalhavam, em Brejo Santo. Ele continuou na cidade, morando em casa de parentes, mesmo depois que a irmã mudou para Fortaleza com o marido. O trabalho de lavrador era difícil. “Até trabalhar com escultura, eu já tinha sofrido muito antes”, relata.
Casou aos 20 anos e teve quatro filhos, dois casais. A vontade de dar uma vida melhor a si e a família o levou à escultura. “Eu sabia dentro de mim que podia fazer o que meu pai fazia, mas antes não queria”, disse. Em uma caminhada pela mata para afastar os problemas, Francisco pegou um tronco de madeira e dele fez um casal de bonecos. O pai a levou ao Centro de Cultura Mestre Noza e de lá saiu com novas encomendas.
Quando Manuel Graciano recebeu encomenda de 30 personagens da Guerra de Canudos, para o Memorial Antônio Conselheiro, em Quixeramobim, precisou da ajuda dos filhos artesãos: Cícero Ferreira e Francisco. “Ele deixou a madeira e uma revista e eu comecei a trabalhar. Nem olhei pra revista, fui fazendo do meu jeito e, quando ele gostou, fiquei esperançoso com meu trabalho”, relata. O pai, falecido em 2014, deixou importante legado na arte popular cearense com seus animais de dentes pontiagudos e bocarras.
Uma marca que também pode ser vista nas peças de Francisco. A pintura multicolorida esmaltada veio com o tempo. “Gostei dessa pintura porque gosto desse brilho. O trabalho fica vivo, chamativo”, explica. As telas também chegaram depois. “Veio vindo na cabeça a ideia. Sempre fiz uns rabiscos. Uma pessoa me incentivou e aí passei a fazer também”, conta. O artista também trabalha com a própria paleta de cores. “Vou criando as cores. Caçando as cores das telas. Fazendo a peça, já sei as cores dela. Tem umas que você precisa pensar e imaginar. Tem umas que fica pronta já na primeira”, ressalta.
Quando questionado sobre de onde vem tanta imaginação para seus animais fantásticos e figuras de arte popular, Francisco ri timidamente e responde que vem de outra pessoa que sopra no ouvido dele. “Tem alguém aqui dizendo o que fazer (aponta para o ouvido). A imaginação vai trabalhando, se concentrando, não pode ter ninguém perto. Pra mim é como se estivesse viajando em um mundo que não existe. Esse mundo eu entro nele, nos animais”, explica gesticulando.
A natureza é a musa inspiradora. “Quando (aqui) era tudo mato, eu entrava, subia na árvore e ficava lá, sumia (de casa) praticamente. Minha cabeça fica desse tamanho (abrindo os braços) pra conseguir viajar”, explica.
“Quando eu olho pra madeira eu já sei. É tantos bichos, que eu preciso desenhar pra não fugirem. Fico concentrado e vejo as imagens”, relata. Com olhos verdes e sorriso doce, Francisco tem confiança na originalidade do trabalho. “O meu reisado é diferente de qualquer um que você viu aí”, afirma. As peças de Francisco Graciano já viajaram para fora do País. “Já vendi pra Nova York e tenho peça em museu internacional”, destaca orgulhoso.
O sonho de Francisco também é deixar um legado para a família e região. No sítio onde mora, ele pretende montar um museu, o Centro de Cultura Mestre Graciano, e, pensando nisso, espalhou esculturas na entrada, fez um mural em alto relevo da banda cabaçal e pintou um tema nas paredes, como nas suas telas. Um trabalho que impressiona qualquer visitante.