Nascimento: 1910
Morte: 1993
Manezinho Araujo nasceu em Pernambuco (1910). Pintor, gravador, serígrafo, cantor e compositor. Muda-se para Recife em 1916 e cursa a Escola de Comércio de Pernambuco nos anos 1920. Dedica-se à música a partir da década de 1930, compõe e canta emboladas, além de gravar cerca de uma centena delas. Começa a pintar em 1950, de maneira autodidata.
Em 1957, morando no Rio de Janeiro, desiste da carreira de músico e abre restaurante de comidas típicas nordestinas, dedicando-se concomitantemente a atividades comerciais e à pintura. Em 1963, acontece a sua primeira exposição individual, em São Paulo, na Galeria Astréia e, dois anos depois, ocorre outra individual, na Galeria Capela. Publica, no Rio de Janeiro, o álbum de serigrafias Meu Brasil, de 1968, com apresentação de Aldemir Martins (1922-2006).
Análise
Há três características recorrentes na pintura de Manezinho Araújo, em primeiro lugar, a presença das linhas compositivas bem definidas, traçadas com clareza; em segundo, a cadência marcada, a distribuição ritmada de elementos pela superfície da pintura; em terceiro, a escolha de temas ligados ao universo popular a colheita, a religião, a feira, a favela. Tome-se, por exemplo, Favela Iluminada, 1978, a tela exibe de uma ponta a outra um forte traço diagonal, que vai do canto inferior esquerdo ao canto superior direito. Representando a encosta íngreme do morro por onde se espalha a favela, essa diagonal também organiza a pintura de forma sumária e eficaz.
Uma das metades é recoberta por um azul denso e homogêneo, a outra é preenchida pelos pequenos barracos geométricos, construídos com retângulos, losangos, triângulos. Desse modo, Araújo utiliza dois recursos para aumentar a sensação de descolamento entre os dois planos, a indistinção do plano azul (céu) em contraposição à distinção entre si dos elementos geométricos (favela) e um tom escuro de azul, que reforça a impressão de profundidade, em contraste com os barracos pintados em tons mais luminosos, que intensificam a sensação de volume e fazem a favela "saltar" para mais perto da superfície do quadro. Os olhos do espectador são levados a percorrer de forma cadenciada as fachadas dos barracos que estão distribuídos pela tela de maneira irregular porém ritmada - as fileiras inferiores formam três horizontais organizadas que se desmancham na metade superior quando se encontram com a diagonal, do morro.