“Era constrangedor”, diz ex-diretor do Masp sobre doação de obras falsas.
Biografia vai contar história do marchand e leiloeiro Renato Magalhães Gouvêa, ex-diretor e associado vitalício do museu.
O marchand e leiloeiro Renato Magalhães Gouvêa, 93, é uma espécie de Forrest Gump das artes plásticas. Ex-diretor e associado vitalício do Masp, autor dos mais glamorosos leilões de quadros da história de São Paulo, ele participou de episódios que vão desde a compra do Abaporu (diretamente das mãos de Tarsila do Amaral) até anedotas que envolvem a rainha Elizabeth II, da Inglaterra. A típica “vida que daria um livro”, enfim, deu: Maestro, de Rogério Godinho (Matrix, 79 reais), com lançamento marcado para novembro.
Confira uma pequena entrevista pela Veja.
O senhor se interessou por arte após uma colega da escola lhe enviar um bilhete: “Como você sabe se um quadro é bom ou ruim?”. Já saberia responder?
Era uma menina mais velha, bailarina, pianista. Eu era quem ajudava os juízes a decidir se um quadro era verdadeiro ou falso. Meu escritório era homologado pelo Instituto de Resseguros do Brasil para dar esse tipo de laudo.
O senhor menciona no livro que no Palácio dos Bandeirantes havia várias obras falsas. Ainda tem?
Nunca mais voltei lá, mas deve ter. Menos, porque o governo criou um grupo para cuidar do acervo.Eu tinha muito contato com o governador Paulo Egydio (1975-1979) e fiz o primeiro livro sobre o acervo. Quando fui ver a coleção, comecei a achar os falsos, um atrás do outro. Muita coisa falsa. Entre eles, uma réplica de La Madonna della Seggiola, de Rafael, instalada no quarto que hospedaria o (ex-presidente francês) Giscard D’estaing. Todo mundo sabe que o original está na Galeria Uffizi, na Itália, e é um tondo (um quadro redondo). O daqui era retangular. O (Pietro Maria) Bardi (fundador do Masp, amigo e ex-sócio de Renato) tirava o maior sarro dessa história.
Antes da entrevista, o senhor disse que cuidou de um objeto da rainha Elizabeth II. Qual foi a história?
Quando ela esteve no Brasil, em 1968, andou a cavalo em um sítio próximo à minha chácara, em Campinas. Ela simpatizou com um cavalariço, senhor Hélio, e enviou a ele um par de abotoaduras.
Os donos do sítio vieram dizer que era um engano: os objetos teriam sido mandados para eles. O senhor Hélio, sem saber como agir, me ligou.
Aconselhei: diga que entregou a um amigo que mora longe. Acabei tendo de guardá-las. Depois, achamos uma carta da embaixada que confirmava que elas pertenciam ao senhor Hélio. Após a morte dele, dei-as aos filhos.
fonte: veja
O marchand e leiloeiro Renato Magalhães Gouvêa, 93, é uma espécie de Forrest Gump das artes plásticas.