Afresco de Alfredo Volpi na 'Igrejinha da Asa Sul' foi destruído com tinta branca pouco tempo depois de concluído. Para historiadora da arte, conservadorismo católico foi contra premissa moderna do artista convidado por Niemeyer.
Em 1958, um dos maiores nomes da pintura moderna brasileira chegava a Brasília para deixar sua marca no que viria a ser a nova capital federal. Convidado por Oscar Niemeyer, Alfredo Volpi (1896-1988) foi o responsável por pintar a primeira obra de arte brasiliense, um afresco na Igrejinha de Fátima, localizada na Asa Sul. A pintura, no entanto, foi apagada pouco tempo depois de concluída.
O motivo, em princípio, era um mistério. Na época, pouco se falou ou se investigou sobre o que levou padres e fiéis a usarem tinta branca para esconder os painéis.
Com muita pesquisa, a historiadora da arte Graça Ramos tentou "desvendar o enigma" e, para ela, houve reação conservadora por parte da igreja.
Tratava-se da imagem da Virgem Maria segurando o Menino Jesus, os dois sem rosto. Ao redor, as tradicionais bandeirinhas, uma das marcas registradas do estilo de Volpi.
Graça conta que o único documento da igreja que encontrou falando sobre o tema foi o escrito de um arcebispo, que esteve em Brasília junto a outros 80 líderes religiosos católicos no ano em que Volpi pintou a Igrejinha. No documento, o arcebispo classifica as pinturas como "infelizes".
Por trás do "apagamento de Volpi", também há um contexto político. Em seu livro, Graça conta que, em 1958, o então presidente Juscelino Kubitschek angariava apoios para a construção de Brasília, que seria inaugurada dois anos mais tarde.
Um dos mecanismos de negociação era a destinação de lotes para a construção de igrejas. "Em reunião no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, o presidente se encontrou com frei Bernardino de Vilas Boas e lhe prometeu a construção de uma igreja em Brasília dedicada à Nossa Senhora", diz a historiadora.
Em 2009, a imagem de Nossa Senhora voltou à parede da Igrejinha. Desta vez, pintada pelo artista brasileiro Francisco Galeno, que também foi alvo de críticas.
fonte: g1
Afresco de Alfredo Volpi na 'Igrejinha da Asa Sul' foi destruído com tinta branca pouco tempo depois de concluído.